Casa Mortuária
2019 | Barrancos
Marcado pela simbiose entre a arquitetura contemporânea e vernacular, a proposta surge enquadrada na colina de forma pouco impactante. O branco do edifício remete para as paredes caiadas alentejanas e a utilização de xisto ao cutelo nos pavimentos respeita as tradições materiais e a sustentabilidade local. Num segundo gesto surgem as linhas fluidas que compõem a envolvente, requalificando o espaço público, com pontos que convidam à permanência, contribuindo para a criação de um novo imaginário do local. Acima de tudo a Casa Mortuária assume-se como espaço fúnebre, com uma arquitetura simples que nos acolhe, onde as passagens entre o interior e o exterior são suaves, respeitando assim as metáforas associadas.
A chegada principal acontece num largo que nos dá as primeiras pistas para a configuração da proposta; o contraste entre o vazio e o edificado, marcado pelas mesmas linhas e direções, equilibra visualmente o espaço. Aqui é feito o primeiro momento de aproximação, com locais de pausa e um momento de especial contemplação feito através da ponte que, entre os seus muros altos, permite o fascínio pelo vazio. Ao chegarmos à casa mortuária, somos recebidos por um enquadramento subtil que permite uma ligeira permeabilidade sem nunca invadir a privacidade. Lá dentro encontramos um atrium amplo e coberto, mas exterior, que recebe e permite o convívio tão comum em velórios entre os familiares e amigos. Aqui encontramos um ripado de madeira que ajuda a definir os espaços, protegendo um jardim que se encontra no centro da proposta.
O edifício funciona em dois volumes ligados apenas por uma cobertura ajardinada, definindo o espaço central enquanto contribui para o arrefecimento do edifício. No volume semienterrado desenvolvem-se as áreas técnicas e de acesso controlado, estes espaços são dotados de luz zenital, marcando o momento onde o construído e o pré-existente se encontram. No volume oposto, encontramos as duas salas de velatório que se projetam sobre a paisagem.
As salas de velatório têm um cariz fechado, fazendo sobressair o vão que enquadra o corpo com o horizonte. As paredes lisas criam a sensação de proteção e a paisagem fortemente iluminada, em contraste com a sala em sombra, remete-nos para uma observação suave e melancólica. Estas salas são divididas por um sistema de painéis que recolhem quando há necessidade de as unir, criando uma única sala. Em ambas as situações o corpo encontra-se enquadrado com o centro da sala em que está.
Segue-se então a ida do corpo para o cemitério. Existindo uma alternativa de transporte viário, a primeira intenção será sempre a do transporte manual, como é tradição. O cortejo atravessa o pátio circular, por entre as oliveiras relocalizadas, e ergue-se o corpo na plataforma elevatória em direção a um plano superior, num momento muito simbólico. Aquando no plano superior da ponte, o cortejo é recebido pelos familiares e amigos no largo, seguindo então para o cemitério, sua última morada.
Ficha Técnica
Localização | Barrancos, Beja |
Ano de projecto | 2019 |
Conclusão da obra | – |
Área de construção | 240 m2 |
Arquitectura | Marco Ligeiro |
Colaboradores | João Pereira, André Caetano, Gabriela Garcia, Luis Pereira, Andreia Lopes, Sofia Borges |
Construção | – |
Programa | Casa Mortuária |
Serviços | Projecto de Arquitectura – Concurso público |
Fotografia | – |